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sexta-feira, 27 de junho de 2014

800 anos da língua portuguesa

«Celebrar o aniversário da nossa língua é um enorme atrevimento. E fazê-lo numa data precisa envolve obviamente algum grau de arbitrariedade; e de escolha. É, na verdade, uma escolha: escolhemos 27 de Junho de 1214.»
José Ribeiro e Castro, “Língua Portuguesa: porquê 27 de Junho?” in Público, 19 de Julho de 2014 [consultado em 27-06-2014]



Assim à primeira vista pode não parecer, mas o texto da imagem acima, datado de 27 de Junho de 1214 (ou seja, «IIII.or dias por andar de junio, E(r)a M.ª CC.ª Lª II.ª», não esquecendo de fazer o desconto de 38 anos do calendário da era hispânica...), é considerado o primeiro documento oficial escrito em português. Trata-se do testamento do terceiro rei de Portugal, D. Afonso II, onde, se olharmos beeeeeeeeem de perto (e com muitos conhecimentos paleográficos), se pode ler:

«En'o nome de Deus. Eu rei don Afonso pela gracia de Deus rei de Portugal, seendo sano e saluo, temëte o dia de mia morte, a saude de mia alma e a proe de mia molier raina dona Orraca e de me(us) filios e de me(us) uassalos e de todo meu reino fiz mia mãda p(er) q(ue) de pos mia morte mia molier e me(us) filios e meu reino e me(us) uassalos e todas aq(ue)las cousas q(ue) De(us) mi deu en poder sten en paz e en folgãcia. P(ri)meiram(en)te mãdo q(ue) meu filio infante don Sancho q(ue) ei da raina dona Orraca agia meu reino enteg(ra)m(en)te e en paz. E ssi este for morto sen semmel, o maior filio q(ue) ouuer da raina dona Orraca agia o reino entegram(en)te e en paz. E ssi filio barõ nõ ouuermos, a maior filia q(ue) ouuuermos agia'o [...]»


Neste texto de D. Afonso II é utilizada oficialmente uma língua já falada pelo povo e distanciada do latim. Passados oito séculos, a versão ortográfica actual do início desse documento seria esta:

«Em nome de Deus. Eu rei dom Afonso pela graça de Deus rei de Portugal, sendo são e salvo, temente o dia de minha morte, a saúde de minha alma e a prole de minha mulher rainha dona Urraca e de meus filhos e de meus vassalos e de todo meu reino fiz minha manda para que depois da minha morte minha mulher e meus filhos e meu reino e meus vassalos e todas aquelas coisas que Deus me deu em poder estejam em paz e em folgança. Primeiramente mando que meu filho infante dom Sancho que hei da rainha dona Urraca haja meu reino integramente e em paz. E se este for morto sem semente, o maior filho que houver da rainha dona Urraca haja o reino integramente e em paz. E se filho barão não houvermos, a maior filha que houvermos o haja [...]»







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