Calou-se o poeta que precisava muito de
solidão e para quem os gatos eram também
família.
Calo-me
Calo-me quando escrevo
assim as palavras falam mais alto e mais baixo
Nada no poema é impossível e tudo é possível
mas não arranjo maneira de entrar no poema
e de sair de mim e por isso a minha voz é profunda e rouca
e por isso me calo ( e como me calarei?)
no entanto ninguém é tão falador como eu
nem há palavras que não cheguem para não dizer nada.
e vós também: não me faleis de nada ou falai-me
porque não sabeis o que dizeis
in
Todas as palavras - poesia reunida (Lisboa, Assírio & Alvim, 2001)