Já dissemos
aqui que uma das dificuldades da aplicação do
Acordo Ortográfico de 1990 (AO) reside, em parte, no próprio texto legal, que não prevê soluções para muitos dos problemas que cria, pois é lacunar, ambíguo ou incoerente em alguns aspectos.
Se, num momento inicial, alguma polémica era alimentada pelo desconhecimento do texto legal, acresce a esse desconhecimento a tendência de ver o AO como
bode expiatório para qualquer tipo de erro em língua portuguesa.
Hoje, por exemplo, é noticiado no jornal português
Diário de Notícias que uma apresentadora de televisão foi criticada pelos fãs, na sua página do Facebook, pelo seguinte comentário: "Não, não vou seguir o acordo ortográfico! Vou continuar a dizer, morto e não matado. Pago e não pagado".
Nem os escritores parecem escapar a esta tendência:
Com visibilidade pública ou sem ela, muitos são os escreventes e falantes de língua portuguesa que afirmam que determinado erro se deve ao AO, quando tal não é o caso.
Apesar de errar ser humano, ninguém gosta que lhe apontem erros ortográficos (ou outros...), mas não será o AO uma desculpa demasiado fácil?