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sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Agenda: Exposição «Quanto Fui, Quanto Não Fui, Tudo Isso Sou»


O verso «Quanto fui, quanto não fui, tudo isso sou», do poema abaixo transcrito “Sou eu, eu mesmo, tal qual resultei de tudo”, de Álvaro de Campos, heterónimo de Fernando Pessoa (1888-1935), dá nome à exposição de pintura e escultura com que o artista plástico Norberto Nunes homenageia a obra do poeta português.

A exposição, de entrada gratuita, está patente no Palácio de São Bento, em Lisboa, até ao dia 30 de Setembro. Mais informações aqui.


“Sou eu, eu mesmo, tal qual resultei de tudo,  
Espécie de acessório ou sobresselente próprio,  
Arredores irregulares da minha emoção sincera,  
Sou eu aqui em mim, sou eu. 

Quanto fui, quanto não fui, tudo isso sou.  
Quanto quis, quanto não quis, tudo isso me forma. 
Quanto amei ou deixei de amar é a mesma saudade em mim.

E, ao mesmo tempo, a impressão, um pouco inconsequente, 
Como de um sonho formado sobre realidades mistas, 
De me ter deixado, a mim, num banco de carro eléctrico, 
Para ser encontrado pelo acaso de quem se lhe ia sentar em cima.

E, ao mesmo tempo, a impressão, um pouco longínqua,  
Como de um sonho que se quer lembrar na penumbra a que se acorda,  
De haver melhor em mim do que eu.

Sim, ao mesmo tempo, a impressão, um pouco dolorosa,  
Como de um acordar sem sonhos para um dia de muitos credores,  
De haver falhado tudo como tropeçar no capacho,  
De haver embrulhado tudo como a mala sem as escovas,  
De haver substituído qualquer coisa a mim algures na vida. 

Baste! É a impressão um tanto ou quanto metafísica, 
Como o sol pela última vez sobre a janela da casa a abandonar, 
De que mais vale ser criança que querer compreender o mundo — 
A impressão de pão com manteiga e brinquedos 
De um grande sossego sem Jardins de Proserpina, 
De uma boa-vontade para com a vida encostada de testa à janela, 
Num ver chover com som lá fora 
E não as lágrimas mortas de custar a engolir.

Baste, sim baste!  Sou eu mesmo, o trocado, 
O emissário sem carta nem credenciais, 
O palhaço sem riso, o bobo com o grande fato de outro, 
A quem tinem as campainhas da cabeça 
Como chocalhos pequenos de uma servidão em cima.

Sou eu mesmo, a charada sincopada 
Que ninguém da roda decifra nos serões de província.

Sou eu mesmo, que remédio!…”

Álvaro de Campos

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Corrector ortográfico para tatuagens


(Via Twitter)

A ideia de corrigir erros ortográficos em tatuagens parece saída de uma daquelas notícias do dia das mentiras, 1 de Abril. Nesse caso, não seria novidade, como aqui já mostrámos, com uma notícia muito semelhante sobre um corrector ortográfico para... escrever na areia! 

No entanto, a notícia é verdadeira: na Colômbia, o Instituto Caro y Cuervo, dedicado à investigação científica nas áreas da linguística, filologia, literatura, humanidades e história da cultura colombiana, lançou no Twitter a campanha “#Caroycuervoink: corrección de tatuajes”. 

A iniciativa, que permitirá corrigir erros ortográficos em tatuagens escritas em espanhol com recurso a tatuadores profissionais, visa chamar a atenção para o IV Festival de la Palabra Caro y Cuervo que, no próximo mês de Setembro, irá reunir académicos, escritores, ilustradores e músicos, colombianos e estrangeiros, para debater e reflectir sobre o estado e as mudanças da língua espanhola na imprensa, na música, no meio académico e no meio literário.

Para além de ser uma interessante campanha de marketing, é uma ideia para futura reflexão aqui na Priberam. Nunca se sabe quando é que o FLiP, o pacote de ferramentas linguísticas de auxílio à escrita em língua portuguesa (mas que também inclui correctores para o espanhol!), pode vir a ser actualizado com um corrector ortográfico e sintáctico para tatuagens :)






Priberamt
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