Hoje prestamos homenagem a Adriano Moreira, político português que nos ofereceu também pensamento sobre a lusofonia, sobre a língua portuguesa, que "não é nossa, também é nossa" (Adriano Moreira, Memórias do Outono Ocidental - Um Século sem Bússola, Coimbra: Almedina, 2013, pág. 145) e sobre o Acordo Ortográfico:
«A discussão sobre a oportunidade e validade do Acordo Ortográfico tem posto em evidência que nenhuma soberania é dona da língua, pelo que não haverá nenhum acordo que impeça evoluções desencontradas. O conceito que tem circulado em algumas das intervenções, e que parece ajustado à natureza das coisas, é o que sustenta que a língua não é apenas nossa, também é nossa. É por isso que acordos, declarações, tratados, são certamente adjuvantes de uma política que mantenha a identidade essencial, mas nenhum terá força vinculativa suficiente para evitar que as divergências surjam pelas tão diferentes latitudes em que a língua portuguesa foi instrumento da soberania, da evangelização, do comércio. [pág. 1]
[...]
A língua é uma tão essencial expressão da identidade dos povos, um tão indispensável instrumento de afirmação no mundo, que não devem estranhar-se as discussões não apenas técnicas, mas também apaixonadas, que rodeiam as intervenções directivas de qualquer origem, e certamente com destaque para as que envolvem a soberania. É um valor essencial que a cidadania não pode deixar de acompanhar, e que exige que todas as dúvidas e inquietações que rodeiam os processos decisórios fiquem na memória vigilante da evolução que requer cuidados, recebe criatividades que surpreendem, mas sem perder a qualidade de ser a pátria que não é só nossa, mas é nossa. [pág. 4]»
in Adriano Moreira, A Língua Portuguesa e o Acordo Ortográfico, Lisboa: Academia das Ciências e Lisboa, 2015 [consultado em 24-10-2022]
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