Dados gerais
Em 2020, ano de confinamento, de quarentena, de teletrabalho e de telescola devido à pandemia da covid-19, o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa (DPLP) registou um aumento muito significativo de pesquisas, subindo para 45 milhões o número de utilizadores (mais 7 milhões do que no ano anterior), os quais geraram 261 milhões de pesquisas, quase o dobro das pesquisas registadas em 2019.
Talvez por essa razão, 2020 foi também o ano em que o site do Dicionário Priberam passou a integrar, desde Maio, o ranking auditado netAudience, um sistema de classificação que mede a audiência da Internet e que regista os 20 sites portugueses mais visitados em cada mês.
No balanço geográfico, destacam-se, por país, Brasil, Portugal, Angola, Moçambique e EUA, com a liderança por cidade a pertencer a Lisboa, Porto, São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília.
No que diz respeito ao trabalho de actualização do DPLP, o ano transacto foi bastante produtivo, já que foram redigidos mais de 2200 novos verbetes, criadas perto de 6000 novas acepções e adicionados quase 9000 sinónimos e cerca de 2000 antónimos.
Palavras mais pesquisadas
Em Portugal, mitigação, que se destacou logo no primeiro trimestre de 2020, permaneceu no topo das pesquisas o tempo suficiente para se tornar a palavra mais pesquisada do ano. No Brasil, a palavra mais pesquisada em 2020 foi relicário (alvíssaras a quem nos ajudar a perceber porquê!). No cômputo geral, a palavra mais pesquisada de 2020 no DPLP foi também mitigação, tal foi o desejo de ver mitigada a pandemia.
Figura 1: Palavras mais pesquisadas em Portugal e no Brasil no Dicionário Priberam em 2020
Nos restantes países de língua oficial portuguesa, as palavras mais procuradas no Dicionário Priberam foram resolução (Angola), jus (Cabo Verde), antecessor (Guiné-Bissau), juro (Moçambique), masoquista (São Tomé e Príncipe) e despesas (Timor-Leste).
Volta ao mundo
Há várias maneiras de caracterizar o ano de 2020. Vejamos algumas, a partir das muitas pesquisas no DPLP feitas por consulentes de diversas proveniências, que confirmam que nenhuma parte do mundo escapou ao tema da covid-19.
Pode descrever-se 2020 como um ano austero (França), cinzento (México), desarmante (Roménia), horripilante (Ucrânia), instável (Costa Rica), lúgubre (Paraguai), taciturno (Gibraltar), tempestuoso (Hong Kong terá tido outras razões além da covid-19 para esta busca) ou até tumultuário (Chipre), mas sabe melhor descrevê-lo como quilhado (Alemanha), chanfrado, marado, sacana ou mesmo cabrão (a Roménia entusiasmou-se...). Isto porque 2020 foi o ano do coronavírus, ou melhor, do dito-cujo (Hungria), mas também um ano do capeta (São Tomé e Príncipe) ou do chifrudo (Chile)!
Para alguns, 2020 foi uma hecatombe (Cabo Verde, Roménia), um cataclismo (São Tomé e Príncipe), uma catástrofe (Timor-Leste), um flagelo ou um pandemónio (Guiné-Bissau), uma intempérie (Macau), um caos (Países Baixos), uma praga (Hungria e Itália), um drama (Suriname), um fardo (Itália) ou até uma chatice (Emirados Árabes Unidos), um perrengue (Argentina, Equador, Nova Zelândia, Uruguai).
Para outros, 2020 foi um ano de desassossego e amargura (Ruanda), perda (Suíça), descontentamento (Timor-Leste), apreensão (China), condicionalismos (Paquistão), precauções (Coreia do Sul), estresse (Espanha) e até de neura (Austrália) ou chilique (Canadá, Irlanda).
Para outros ainda, 2020 foi um ano que, quase de certeza, fez alguém barafustar (Cabo Verde), atarantar-se (EUA), flipar (Roménia) ou tripar (Argélia). Foi também o ano em que, justificadamente, alguém se pode ter sentido anacoreta (Canadá, Emirados Árabes Unidos), eremita (Equador), chateado (Colômbia), jururu (Itália), carrancudo (Irlanda), piurso (Suíça) ou mesmo ao deus-dará (Espanha).
Face a este cenário de 2020, não admira que, na figura 1 acima, se destaque resiliência, (já nossa conhecida de balanços anteriores), como uma das palavras mais pesquisadas em Portugal e no cômputo geral. É provável que as razões que fizeram aumentar a procura por resiliência justifiquem também as buscas por bom senso (Brasil), calma (Camboja), estoicismo (Timor-Leste) ou por benevolência (Espanha), camaradagem (Japão), compaixão (Suécia), empatia e porto seguro (Brasil).
Por ter sido o ano que foi, é natural que 2020 também tenho feito disparar as buscas por colinho e amor (Paraguai), cafuné (Colômbia), aconchego (Espanha), xodó (Vietname) e, claro, saudade (Canadá, Colômbia, Espanha, Eslovénia, Nova Zelândia, Polónia).
O confinamento de 2020 teve várias consequências, uma das quais parece ter sido uma maior dedicação à arte da culinária. Isso reflectiu-se também nas buscas do DPLP que quase davam para abastecer uma secção de secos e molhados (Nova Zelândia). Optamos por destacar as pesquisas patê, esparguete, pimento, pastinaga, hambúrguer, picante e gasosa, pois com elas o Vietname quase compôs uma refeição (só faltou o cafezinho, mas, dessa busca, encarregou-se a República Checa). Como as buscas por pratos culinários, alimentos, ervas e temperos, sobremesas e bebidas foram tantas e tão variadas, é natural encontrar também buscas por empanturrado (Marrocos, Suécia), gastura (Paraguai) ou apepsia (Nepal).
Outra consequência do confinamento parecer ter sido o interesse por aquelas coisas que ficaram mais difíceis de fazer em 2020, como ramboiada (Eslováquia), moina, vida airada (Luxemburgo) ou até bilhardar (Luxemburgo) e mujimbar (Chile).
Compreensivelmente, e por tudo o que se disse acima, 2020 foi um ano digno de inúmeras interjeições, como caraças (Espanha e Suíça), carago (Sri Lanca), meleca (Itália), lagarto, lagarto (Alemanha), vade-retro (Israel), poça (França) ou até porra (Hungria), para não mencionar outras duas mais cabeludas (não é, Bolívia, Finlândia, França, Hungria e Suíça?).
Aproveitando a nota mais informal acima, não podemos deixar de referir aquelas buscas mais informais, brejeiras ou safadas a que estes balanços já nos habituaram, como agarramento, paquera (Áustria), apalpão (Austrália), sarro (Colômbia); anilha (Polónia), bujão (Andorra), cu (Brasil), traseiro (Chipre); grelinho (Chile), lasca (Dinamarca), pachacha (Finlândia), pepeca (Chile, Uruguai), xenhenhém (Costa Rica), xoxota (Índia); minete (Luxemburgo), siririca (Costa Rica); pica (Bermudas); felácio (Áustria), broche (Guatemala, Irlanda, Luxemburgo), bronha (Emirados Árabes Unidos), boquete (Canadá), boqueteiro (Irlanda), brochista (Roménia); tesão (Chile), tusa (Coreia do Sul), tesudo (Suíça, Uruguai); broxar (Canadá), curtir (Ucrânia), transar (Bangladeche, São Tomé e Príncipe), ménage (Brasil) ou swing (Tailândia).
Para nos redimirmos do parágrafo anterior, terminamos numa nota mais erudita, com o levantamento de pesquisas por latinismos, que se distribuíram pelos domínios académico, como numerus clausus (Angola) e data maxima venia (Brasil), jurídico, como res judicata pro veritate habetur (Angola), habeas corpus (Chile), ipso jure (Cuba) ou post factum (Japão), filosófico, como ad augusta per angusta e sapiens nihil affirmat quod non probet (Brasil), est modus in rebus (EUA), fas est et ab hoste doceri (Hungria), ubi veritas e audentes fortuna juvat (Luxemburgo), exegi monumentum aere perennius (Polónia), aut caesar, aut nihil (Timor-Leste) ou plurima mortis imago (Venezuela), a par de buscas mais gerais, como ab hoc et ab hac (Hungria) in extremis (Moçambique), ipsis verbis e ad vitam aeternam (Países Baixos), alea jacta est (Paraguai), fama volat (Sri Lanca) ou semper et ubique (Suíça).
O ano de 2020 em palavras
No ano em que covid-19 passou a fazer parte do vocabulário de todos, a Priberam voltou a associar-se à agência de notícias Lusa para ilustrar algumas das palavras mais pesquisadas no Dicionário Priberam em 2020.
No site O Ano em Palavras, é possível visualizar, cronologicamente, algumas das palavras mais pesquisadas no Dicionário Priberam relativas à actualidade nacional e internacional de 2020, bem como as notícias e fotos dos eventos que originaram essas pesquisas e que marcaram o ano a nível político, económico, cultural e social.
Entre as mais de duas centenas de palavras que, devido ao elevado número de pesquisas diárias, ganharam destaque na nuvem do dicionário ao longo do ano e foram recolhidas para posterior selecção pelos editores da Lusa, é inevitável encontrar muitas que se referem directamente à covid-19, como assintomático, confinamento, coronavírus, pandemia (a mais pesquisada de todas), quarentena ou zaragatoa:
Figura 2: Palavras pesquisadas no Dicionário Priberam que reflectem alguns dos principais acontecimentos de 2020
Com este retrato de 2020 terminamos o balanço do ano no DPLP. A todos os consulentes, resta-nos agradecer terem estado desse lado e desejar buscas mais felizes em 2021.
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