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terça-feira, 18 de janeiro de 2022

Números e palavras de 2021

Dados gerais
O ano de 2021, o segundo passado em pandemia da covid-19, confirmou a tendência de crescimento do Dicionário Priberam da Língua Portuguesa, que contabilizou 50 milhões de utilizadores (mais 5 milhões relativamente ao balanço de 2020), os quais foram responsáveis por mais de 265 milhões de pesquisas.

A par deste aumento de 11% no número de utilizadores, o Dicionário Priberam manteve a posição entre os 20 websites portugueses incluídos no ranking auditado netAudience, tendo chegado à 2.ª posição em termos de alcance nos acessos a partir de computadores.

No balanço geográfico, o Brasil manteve-se na liderança por país em número de acessos ao Dicionário Priberam. A principal diferença em relação ao ano anterior é que Luanda destronou Brasília e passou para o quinto lugar nos acessos por cidade.

Quanto ao trabalho de actualização do dicionário, foram redigidos quase 2600 novos verbetes, criadas mais de 4700 novas acepções, adicionados mais de 5000 sinónimos e mais de 700 antónimos.


Palavras mais pesquisadas
Em Portugal, a palavra mais pesquisada foi verbatim, no Brasil foi hidratação e, no cômputo geral, a palavra mais pesquisada no Dicionário Priberam em 2021 foi sadomasoquismo. O que se pode dizer sobre estas três pesquisas em particular? Não muito, a não ser que tempos difíceis geram buscas difíceis de explicar...

Figura 1: Palavras mais pesquisadas em Portugal e no Brasil no Dicionário Priberam em 2021

Nos restantes países de língua oficial portuguesa, as palavras mais procuradas no Dicionário Priberam foram latrocínio (Angola), resiliência (Cabo Verde), excursar (Guiné-Bissau), catingar  (Moçambique), receção (São Tomé e Príncipe) e  delicada (Timor-Leste).


Volta ao mundo
Se 2020 deu ao mundo o termo covid-19 e as suas consequências, o que nos trouxe 2021, o ano II da pandemia? Vamos tentar descobrir, a partir de pesquisas feitas no Dicionário Priberam por consulentes das mais diversas proveniências, indicadas entre parêntesis. 

Em 2021, os efeitos da covid-19 nas pesquisas do Priberam fizeram-se notar nas buscas já habituais, como coronavírus (Reino Unido), confinamento (Marrocos), comorbidade (Finlândia), comorbilidade (Guatemala, Hungria, Líbano e Suécia), entubar (Hungria), surto (Chile) ou zaragatoa (Países Baixos), bem como em buscas novas, como estirpe (Bulgária), testagem e virologista (África do Sul), profilático (Canadá e Índia), moratória (Austrália e Suíça) ou postigo (curiosidade: a par das buscas em Portugal, a diáspora no Luxemburgo, no Reino Unido e na Suíça também contribuiu para fazer de postigo uma das palavras mais pesquisadas no Priberam, como indica a figura 1 acima). Considerando que a vacinação foi uma das consequências da covid-19, não são de estranhar as buscas por pica (Bulgária e Suíça), por vacinal (Peru) ou por belonofobia (outra curiosidade: o medo patológico de agulhas deve estar presente em várias regiões, mas só de Macau nos chegou esta pesquisa).

Depois de um primeiro ano de pandemia que causou tanta clausura (Jérsia), desgraceira (África do Sul) e desgrama (Argentina), seria de esperar a bonança. Não foi o que aconteceu: o caiporismo (Colômbia) e o enguiço (Suíça) mantiveram-se e o mundo continuou num frenesim (Iraque), numa roda-viva (México), com desassossego (Brasil), stresse (China), transtorno (Serra Leoa), arrelias (Suriname), carrancas (Estados Unidos), grilhetas (São Tomé e Príncipe), macas (Peru), mazelas (Singapura) e mais ais (Argentina). 

Alguns consulentes do Priberam podem ter ficado fartos de passar as passas do Algarve (África do Sul e Jérsia) ou de estar em águas de bacalhau (Rússia), à espera de ver o desfecho (Maláui) desta mesmice (Roménia) que nos continua a martirizar (Quénia), que nos deixa com os nervos à flor da pele (China) ou nos faz perder as estribeiras (Luxemburgo). 

O ano de 2021 foi danado (Líbano) para uns, misérrimo (Costa Rica) para outros, um ano do qual ninguém quer um bis (Geórgia), ao qual apeteceu fazer um manguito (África do Sul) e para o qual foi preciso ter pedalada (Malta). Foi também preciso continuar a ter genica (Finlândia), a ser resiliente (Albânia), combativo (Alemanha), audaz (São Tomé e Príncipe) e mais sage (Bósnia e Herzegovina) para manter a sanidade (Noruega) e a saúde (Países Baixos), pois cuivis dolori remedium est patientia (Usbequistão), que é como quem diz, em latim, a paciência é o remédio de todas as dores.

É por isso normal que haja quem se possa ter sentido um tanto almareado (Honduras), apardalado (Guiné-Bissau), aparvalhado (Alemanha), azoado (Egipto), chalupa (Hungria e Luxemburgo), tresloucado (Irlanda) ou até puto (Lituânia). É igualmente normal ter havido buscas por palavras mais expressivas para dar conta desse marasmo (Espanha), como as interjeições ai (Senegal), bolas (Áustria e Timor-Leste), caraças (Paraguai e Timor-Leste), caramba (Japão), caneco (Venezuela), catano (República Checa), meu deus (Paraguai e Ucrânia) ou puxa (Guiné-Bissau).

Tal como já tinha acontecido no ano anterior, e provavelmente pelas mesmas razões, em 2021 houve consulentes do Dicionário Priberam querentes (Alemanha) de carinho (Israel, Luxemburgo, São Tomé e Príncipe), borogodó (Japão), colinho (Argentina e Peru), paparico (Austrália), de cafuné (França, Itália, Luxemburgo e Suécia) ou de um abraço (Porto Rico), um candando (Bélgica) ou chi-coração (Suíça).  Houve também consulentes com gana (Rússia) de bazar (Países Baixos), desopilar (Malásia), gazetar (África do Sul), sassaricar (Uruguai), sextar (México) e consulentes augados (Bélgica) por agito (Chipre), desbunda (Peru), gandaia (Cabo Verde e Turquia) ou ziriguidum (Porto Rico).

Nas buscas por comes e bebes, um tema incontornável nas buscas no Priberam, houve uma maior procura por “comes” de fast-food (Irlanda), como cachorro-quente (Polónia), hambúrguer (Luxemburgo e Polónia), pizza e sorvete (Polónia) ou sandes (Angola),  a par de “comes” mais tradicionais, como artelete (São Tomé e Príncipe), brindeiro (Egipto), ensopado de frango (Venezuela), falacha (Luxemburgo), filhó (Peru), quibebe (Itália), presunto (China), sardinhada (Guiné-Bissau) ou xiró (Moçambique). Também houve maior diversidade de “bebes”, como champanhe (Macau), chope (Japão), galão (México), cimbalino e jeropiga (Timor-Leste), goró (Costa Rica), mate (Hungria) ou rascante (República Checa) e até de locais que os servem, como boteco (Reino Unido), botequim (Peru) ou padoca (Argentina). 

É caso para dizer que, se houver alguém esganado (Nova Zelândia) de fome ou com larica (Paraguai), basta ir ao Priberam debicar (Finlândia), emborcar (Polónia) ou lambiscar (Itália) algo. E o que pode acontecer depois de se comer ou beber à fartazana (França)? Talvez um piriri (Canadá) ou, quem sabe, uma bezana (Suíça) ou mona (Kuwait), logo seguida de uma ressaca (Macau) ou babalaza (Moçambique).

Naquele que é outro foco habitual das buscas dos nossos consulentes, o que abarca os domínios da concupiscência (Canadá), da galderice (Senegal), do sexo (Iémen), da taradice (Itália) e afins, as buscas foram para todos os gostos e incluíram, por exemplo, brasa (Gana), giraço (Luxemburgo), gostosão (Noruega), sexy (Somália); fetiche (Espanha e Sudão), hard-core (Japão), pornografia (Costa Rica e São Tomé e Príncipe), prostíbulo (Bulgária, Chipre e Paraguai), putaria (Vietname), putedo (Irlanda); brioco (Canadá e Japão), bunda (França), butico (Austrália e Chipre); pilinha e rabo (Macau), piço (Luxemburgo), giromba (Paraguai), tintim (Itália); broche (Andorra e Argélia), onanismo (El Salvador); boceta (Hungria), pito (África do Sul), racha (Suécia), xaxa (Polónia), xereca (Luxemburgo e Uruguai), xibiu (Panamá), xoxota (Coreia do Sul); amasso (Bélgica, Chipre e Luxemburgo), chocho (Hungria), cantada (Moçambique), paquera (Bolívia, Sérvia e Tunísia), ficar (México), xavecar (Argentina); esbórnia (Hungria), suruba (Dinamarca) ou troca-troca (Indonésia). 


O ano de 2021 em palavras
No segundo ano da era pandémica, a Priberam voltou a associar-se à agência Lusa para ilustrar com imagens e notícias algumas das palavras que, em algum momento, estiveram em destaque na nuvem do Dicionário Priberam em 2021.

No site O Ano em Palavras, é possível visualizar, cronologicamente, 24 palavras pesquisadas no Dicionário Priberam relativas à actualidade nacional e internacional de 2021, bem como as notícias e fotos dos eventos que originaram essas pesquisas e que marcaram o ano a nível político, económico, cultural e social.

Entre as cerca de duas centenas de palavras que, devido ao elevado número de pesquisas diárias, ganharam destaque na nuvem do dicionário e foram recolhidas ao longo do ano para posterior selecção, é inevitável encontrar muitas que se referem, directamente ou indirectamente, à pandemia da covid-19, como (as)síncrona, comorbilidade, obscurantismo e, claro, ómicron. Outras, como elegível ou chumbo, prendem-se com determinados momentos políticos, havendo ainda aquelas que foram pesquisadas em momentos de catástrofes naturais, como glaciar ou erupção, ou de crise, como capitólio ou talibã. Da lista destas palavras que, em algum momento, estiveram em destaque na nuvem do Dicionário Priberam, a mais pesquisada foi genocida, motivada por protestos contra o presidente brasileiro:

Figura 2: Palavras pesquisadas no Dicionário Priberam que reflectem alguns dos principais acontecimentos de 2021

Com este retrato de 2021 terminamos o balanço do ano no Dicionário Priberam. Será caso para dizer quam multa quam paucis (Nigéria), locução latina que significa "quantas coisas em tão poucas [palavras]". 

A todos os consulentes, resta-nos agradecer terem estado desse lado e lembrar que fugit irreparabile tempus (Ucrânia), latim para “foge o irreparável tempo”, ou seja,  o tempo que passa não volta mais e não o devemos desperdiçar em futilidades (como este texto), pelo que o melhor mesmo é carpe diem (Hungria), aproveitar o dia!


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