Desculpa escrever-te tão em cima da hora, sobretudo nesta época já de si tão atarefada. Sei, por experiência profissional, que não é fácil responder a tantas cartas, reais e virtuais, que chegam diariamente, das mais diversas proveniências. Não imagino sequer a confusão linguística que vai por esse Pólo Norte. O meu pedido é por isso muito curto: gostaria de saber o que fazer com Acordo Ortográfico (AO) de 1990 em Portugal...
Com o Acordo Ortográfico (AO) de 1990 já em vigor no Brasil, a comissão de lexicologia e lexicografia da Academia Brasileira de Letras (ABL) elaborou uma nota explicativa das orientações e opções tomadas na 5ª edição do Vocabulário Ortográfico de Língua Portuguesa (São Paulo: Global, 2009), onde se encontram os quatro princípios metodológicos seguidos (p. LI):
a) respeitar a lição do texto do Acordo;
b) estabelecer uma linha de coerência do texto como um todo;
c) acompanhar o espírito simplificador do texto do Acordo;
d) preservar a tradição ortográfica refletida nos formulários e vocabulários oficiais anteriores, quando das omissões do texto do Acordo.
À partida, a instanciação dos princípios acima não deixa antever o impacto das opções tomadas pela ABL, que só começa a desenhar-se quando são apresentadas as principais medidas tomadas pela comissão (p. LII). Mas só após exaustiva e fastidiosa consulta do VOLP (cuja versão electrónica on-line ainda não se encontra disponível) é que se percebe que a alínea c) acima transcrita pretende justificar interpretações que vão além do que diz o texto legal do AO e que a alínea d) é muitas vezes descurada pelas opções tomadas, comprometendo-se assim a esperada unificação ortográfica.
Algumas das opções e respectivas justificações do VOLP são particularmente intrigantes, como as que se seguem.
- registam-se palavras com formas divergentes das referidas no AO (ex.: grafa-se primo-infeção no AO mas primoinfeção no VOLP; co-herdeiro no AO mas coerdeiro no VOLP – cf. Base XVI), contrariando-se assim exemplos e regras claramente apresentados no texto legal;
- eliminam-se variantes não referidas no AO (ex.: benfeito surge no texto do AO, daí ter-se eliminado bem-feito no VOLP), mas mantêm-se outras no mesmo contexto (ex.: benquerença surge no texto do AO, mas é mantida a forma bem-querença no VOLP);
- elimina-se simplesmente o hífen em todas as palavras que contêm "formas de ligação", sem que haja explicitação inequívoca do que é entendido por “forma de ligação” ou da solução a tomar após a remoção do hífen (ex.: disse me disse, esmeralda do brasil, toma lá dá cá, tomara que caia mas pauapicar, empauapicar, flordelisado);
- abrem-se excepções às decisões ao uso do hífen nos casos acima, com "formas de ligação", nomeadamente para os gentílicos como rio-grandense-do-norte, mas não para os gentílicos indígenas como carajá do norte;
- fazem-se distinções entre palavras aglutinadas, palavras hifenizadas e locuções que escapam aos critérios definidos e são difíceis de compreender (ex.: o VOLP regista judeo-árabe mas judeo aramaico; regista judeu-cristão mas judeu cristianismo; regista francomação mas franco-maçom);
- hifenizam-se os termos compostos formados por elementos repetidos de origem onomatopaica mas escrevem-se aglutinados se forem de outra origem(ex.: tam-tam "tambor" versus tantã "pessoa desequilibrada"; o cuco "ave" foi cu-co até aos aditamentos, onde se descobriu que afinal não era bem uma onomatopeia, senão na origem do latim; já o fru-fru parece continuar hifenizado, mesmo tendo origem na palavra francesa froufrou);
- hifenizam-se os termos pertencentes às áreas da botânica ou da zoologia (conforme a Base XV, 3º) que designam animais, plantas, flores, frutos, raízes e sementes mas escrevem-se sem hífen sempre que tiverem outros significados diferentes desses (ex.: flor-de-lis "lírio-roxo" versus flor de lis "emblema da realeza francesa" que representa essa flor; bálsamo-do-peru "espécie de árvore" versus bálsamo do peru "líquido resinado obtido do bálsamo-do-peru");
- contraria-se o disposto na Base XVI, 1.º, alínea b), segundo a qual o prefixo re- (à semelhança do que sucede com outros prefixos terminados em -e, como entre- ou sobre-) deverá ser seguido de hífen quando o elemento seguinte começar por -e e o VOLP regista, por exemplo, reentrar. O texto legal do AO é inequívoco relativamente ao uso de hífen com um prefixo que termina na mesma vogal em que se inicia o elemento seguinte (ex.: anti-ibérico, contra-almirante, auto-observação).
- elimina-se o uso do hífen nos compostos com quase- ou não- (ex.: não metal; quase delito), quando o AO em nenhum momento o faz.
Será que a Academia das Ciências de Lisboa, cujo vocabulário é esperado até ao final deste ano, vai interpretar o AO da mesma maneira?
Falar do Acordo Ortográfico (AO) de 1990 não implica falar apenas de lusofonia. Nem do projecto de uma "ortografia unificada de língua portuguesa", como menciona o texto legal. Implica falar de polémica, de aceitação e rejeição, de petições contra e a favor e da falta de uma política linguística coesa, pelo menos em Portugal. Tem sido assim desde antes de 1990 e não parece que este cenário se vá alterar, mesmo após a ratificação do Acordo do Segundo Protocolo Modificativo ao Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa por parte do Brasil (2004), Cabo Verde (2006), São Tomé e Príncipe (2006), Portugal (2009) e, a partir desta semana, Timor Leste.
Nos últimos tempos, falar do AO implica também falar de erratas, de listas de correcções, de ajustes, de aditamentos e de actualizações. Porquê? Porque os produtos de língua portuguesa entretanto disponibilizados no Brasil e em Portugal reflectem o facto de (i) o texto legal do AO ser ambíguo, incongruente e lacunar em vários pontos, gerando por isso interpretações divergentes, (ii) não existir um vocabulário comum atempadamente publicado que tenha colmatado essas lacunas e divergências, (iii) este ser um período de transição. Já aqui e aqui se tinha alertado para estes factos. Se restam dúvidas acerca das dificuldades da aplicação do AO, basta ver como os dicionários e os vocabulários entretanto publicados se distanciam na interpretação e na aplicação do texto legal, comprometendo assim a tão almejada unidade ortográfica.
A Priberam tem acompanhado atentamente todo o processo relativo ao AO, no sentido de não tomar decisões precipitadas e de produzir ferramentas que correspondam qualitativamente às expectativas dos utilizadores, não só em Portugal, mas também no Brasil e em outros países da CPLP. Pelo facto de a Priberam ter adquirido uma grande responsabilidade devido aos produtos que desenvolve, às marcas a que se tem associado e ao número de utilizadores que recorrem aos seus produtos e serviços, é exigido aos seus correctores um alto grau de qualidade e a resolução pronta das dúvidas ortográficas (e não a criação de mais áreas de dúvida ou hesitação).
Tendo em conta este contexto, a Priberam sentiu necessidade de definir linhas gerais explícitas e fundamentar linguisticamente as suas opções nos pontos em que o AO é ambíguo, incongruente e lacunar, tornando-as públicas nos critérios do FLiP relativamente ao Acordo Ortográfico de 1990, disponibilizados on-line logo desde o lançamento do FLiP 7.
Todavia, neste período de transição, dificilmente algum produto de língua portuguesa estará isento de fazer alterações ou actualizações, e os produtos da Priberam não constituem excepção. Veja-se, aliás, como a própria Academia Brasileira de Letras teve rapidamente de proceder a correcções ao Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (São Paulo: Global, 2009) no seu encarte de correcções e aditamentos à 5ª edição. Isto depois de ter publicado a edição segundo o AO do Dicionário escolar da língua portuguesa, que teve de sofrer ajustes numa 2.ª edição, a qual, por sua vez, ainda revela divergências relativamente ao referido vocabulário.
Nota1: A expressão "entidades nomeadas" é a tradução proposta pela Linguateca para a expressão inglesa named entities, termo que designa "entidades com nome próprio" (ex.: Reino Unido, Luís de Camões, ministro dos Negócios Estrangeiros, etc.).
 Alguém precisa dizer ao Grump e ao Vândalo desta tirinha que o Novo Corretor Aurélio 2.0 já se encontra à venda no Brasil. Com ele, e com o FLiP 7 em Portugal, fica um pouco mais fácil escrever segundo as novas regras ortográficas do português. P.S.: Está sol? O calor convida a uma ida à praia? O tema "acordo ortográfico" não desperta interesse? Não faz mal, justifica-se na mesma uma visita ao blogue do Orlandeli, de onde foi retirada a tira acima.
Vários advogados trocaram as togas, os códigos, gabinetes e tribunais por uma noite de espectáculo e por uma causa social. Foi um enorme sucesso em termos de angariação de fundos para promover o 1º Curso de cozinha e pastelaria para formar mães solteiras – Casa de Santo António http://www.casasantoantonio.org.pt/. Sucesso conseguido pelos donativos daqueles que participaram individualmente e pelos donativos das empresas que se associaram ao evento e à causa, como foi o caso, entre outras, da Priberam – LegiX. Foi uma noite surpreendente pela participação, mas também por, num espaço limitado, se encontrarem tantos advogados para uma noite diferente, de diversão, solidariedade e até de demonstração de outros talentos que não a advocacia. Todos em conjunto demonstraram que a advocacia não é nem pode ser um contínuo estado de conflitos e guerrilhas entre profissionais da mesma classe, como se tem querido transmitir. Ou ainda, de uma classe “cinzenta” sem luz e sem brilho! Ali houve muita cor e especialmente muita alegria testemunhadas por outros profissionais que, como também ali se disse, “quiseram passar a noite com advogados”! Foram tocados e cantados vários êxitos musicais de rock e não só, de música estrangeira como Proud Mary, One, Fame, Video killed the radio star, Superstition, entre outros, e em especial sucessos de bandas nacionais como Táxi, Doce, GNR, Jáfumega, finalizando a noite com uma versão não menos surpreendente de “À minha maneira” dos Xutos e Pontapés. Há que repetir! 
 ... descobrir que auspicioso é uma das palavras mais pesquisadas recentemente no Dicionário Priberam da Língua Portuguesa porque é um termo muito proferido numa telenovela brasileira.
Recentemente, a Priberam reformulou os recursos linguísticos disponibilizados on-line. De seguida, com a disponibilização de um Conjugador, no intuito de enriquecer o acesso à informação gramatical já disponibilizada através do Corrector ortográfico e sintáctico. Ambas as ferramentas são válidas para português de Portugal e para português do Brasil (com ou sem AO), assim como para espanhol. Foram também disponibilizados quatro Auxiliares de tradução que facultam equivalentes de e para espanhol, francês, inglês e português (com ou sem AO).
 Depois do FLiP:Mac 2 e do FLiP:Mac 2 Brasil, as versões do FLiP para Macintosh lançadas em Dezembro de 2008, chegou finalmente a hora de apresentar o FLiP 7, a última versão do pacote de ferramentas linguísticas da Priberam para o Microsoft Windows. As principais características e funcionalidades são descritas na página do produto, podendo também algumas delas ser visualizadas numa peça transmitida pela SIC. A apresentação do FLiP 7 teve lugar na Biblioteca Nacional e contou com as presenças do Ministro da Cultura, José António Pinto Ribeiro, do director da BN, Jorge Couto, do Secretário Executivo da CPLP, Domingos Simões Pereira e do Embaixador do Brasil na CPLP, Lauro Moreira, entre outros. Na sua comunicação, o ministro da cultura referiu-se ao FLiP 7 como um "instrumento de liberdade" que, a propósito das alterações decorrentes do Acordo Ortográfico (AO) de 1990, "permite-nos compreender como as novidades são simples". Pinto Ribeiro revelou ainda que estão a decorrer conversações com outros países da CPLP para acordar uma data para a entrada em vigor do AO, que poderá ocorrer ainda no primeiro semestre de 2009. Nota1: No português do Brasil, a forma verbal cheguei é usada informalmente como apositivo, significando "berrante, garrido, vistoso" (ex.: um vestido cheguei; umas sandálias verde cheguei).
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